Em
Henry James, o peso da tarraxa,
aqui, apresentei uma rápida listagem das obras de James traduzidas entre nós. Passo agora às traduções individuais e suas primeiras edições.
I. O primeiro James
Até onde sei, o primeiro escrito de James a sair no Brasil foi o conto "Four Meetings", "Quatro encontros", em tradução de Vinícius de Moraes. Saiu na coleção "Contos do Mundo", volume 3,
Os norte-americanos: antigos e modernos, com organização do próprio Vinícius, pela editora Leitura, em 1945. Foi incluído em
Contos norte-americanos pela BUP, em 1963; a Ediouro tem reeditado o volume completo da Leitura, com o título de
Contos norte-americanos: os clássicos:
II. O primeiro romance
Em 1955, sai o primeiro romance de Henry James entre nós,
Washington Square, com o título de
A Herdeira, em tradução de Ondina Ferreira, na Coleção Saraiva, vol. 82:*
III. A
amusette, como dizia H. James
A seguir vem a menina dos olhos das editoras,
The Turn of the Screw, título este que costuma ser vertido ao pé da letra, resultando num abstruso
A volta do parafuso ou
Outra volta do parafuso ou ainda
A outra volta do parafuso. Há editoras que usam o título
Os inocentes, na esteira do filme
The innocents, com roteiro de Truman Capote.
O aparecimento dessa novela entre nós foi tardio: lançada em 1898, só chegou aqui em 1961. Talvez para compensar o atraso, em menos de cinquenta anos sucederam-se nada menos de dez traduções e três adaptações. A primeira delas, e de longe a mais conhecida e reeditada até hoje, é a de Brenno Silveira. Apresento abaixo suas várias edições em várias editoras.
Brenno Silveira, Civilização Brasileira, 1961:
Em 1969, a capa muda para:
Na 3a. edição, em 1972, passa para:
Em 1970, a Abril Cultural licencia a tradução de Brenno
e acrescenta o conto Lady Barberina, em tradução de Leônidas Gontijo de Carvalho,
em sua coleção "Imortais da Literatura Universal" (reed. em 71, 72, 74, 76):
Em 1980, a Abril muda a cor da capa e acrescenta um "A" ao título
(reed. em 81, 82, 83):
Em 1985, sai pelo Círculo do Livro, com o título inicial
(reed. em 90):
Em 2002, sai pela Nova Cultural, novamente com Lady Barberina
e o "A" no título
(reed. em 2003):
Em 2010, a Clássicos Abril retoma o título inicial:
IV. Volta a herdeira
Em 1967, a BUP (Biblioteca Universal Popular, vol. 66) publica A herdeira (Washington Square) em tradução de Berenice Xavier:
A tradução de Berenice Xavier é licenciada para a Abril Cultural, na coleção "Grandes Romancistas", em 1984:
V. Volta a amusette
Infelizmente não sei em que ano sai A volta do parafuso em tradução de Olívia Krähenbühl, pela Cultrix, tradução esta que é licenciada em 1969 para a Ediouro (então Tecnoprint), onde se mantém até hoje:
E, surpreendentemente, sai também pelo Clube do Livro em 1971, reed. 72, com os devidos créditos de tradução:**
Em 1979, o Clube do Livro troca o título para Os inocentes, mantendo a mesma tradução de Olívia Krähenbühl:
Em 1987, o mesmo Clube do Livro volta ao título inicial adotado pela tradutora:
VI. Um pouco de novidade
Em 1971 sai A roda do tempo, trazendo também "Lady Barberina" e "O mentiroso", em tradução de Leônidas Gontijo de Carvalho, na Coleção Sempreviva, v. 10, da Civilização Brasileira:
VII. Começam as adaptações infanto-juvenis
Em 1972, The Turn of the Screw sai com o título de Os inocentes, em adaptação infanto-juvenil de Marques Rebelo, na Coleção "Elefante" da Ediouro:
VIII. A versão espírita
Em 1980, sai mais um Os inocentes, por uma pequena editora de Matão, O Clarim, em tradução de Wallace Leal Rodrigues, com um prefácio expondo sua abordagem kardecista da obra:
IX. Mais um pouco de variedade
Em 1984, finalmente sai um terceiro romance de James, Os papéis de Aspern, em tradução de Maria Luiza Penna, na Coleção "Armazém do Tempo" da Global:
X.
Também em 1984, sai uma tradução de Os papéis de Aspern, de Álvaro A. Antunes, pela pequena editora Interior, de Além Paraíba.
XI. Outros contos
Em 1985, sai A fera na selva, pela Rocco, na Coleção "Novelas Imortais", em tradução de Fernando Sabino:
XII. Prossegue o James contista
Em 1986, o Clube do Livro lança Os quatro encontros, incluindo o conto de mesmo título e mais "O discípulo" e "O mentiroso", em tradução de Aristides Barbosa (é de se notar que esta tradução segue outra edição, bem diferente da usada por Vinícius de Moraes):
XIII. Agora no segmento dos didáticos
Em 1987, a Scipione lança Os inocentes, com o subtítulo em corpo menor de A volta do parafuso, numa adaptação infanto-juvenil por Cláudia Lopes, na Série Reencontro, para compras do governo de livros didáticos (reedições anuais ininterruptas, até hoje):
XIV. Opa
Em 1991, a Imago lança Daisy Miller / Um incidente internacional, em sua Coleção Lazúli, em tradução de Onédia Célia Pereira de Queiroz:
XV. Agora vai
Em 1993, saem cinco contos enfeixados em A morte do leão: histórias de artistas e escritores, pela Companhia das Letras, em tradução de Paulo Henriques Britto. Traz "A morte do leão", "A lição do mestre", "A coisa autêntica", "Greville Fane" e "O desenho no tapete".
XVI. Até que enfim
Também em 1993, o Círculo do Livro lança Retrato de uma senhora, em tradução de Gilda Stuart:
Esta tradução é licenciada em 1995 para a Companhia das Letras, onde permanece até hoje:
em edição de bolso, 2007
XVII. Variando um pouco
Em 1994, é lançada uma coletânea de contos selecionados e traduzidos por José Paulo Paes, pela Companhia das Letras, Até o último fantasma: contos fantásticos. Traz "Sir Edmund Orme", "A coisa realmente certa", "Os amigos dos amigos", "O grande e bom lugar" e "A bela esquina":
XVIII. Mais um romance
Também em 1994, a mesma editora lança Pelos olhos de Maisie, em tradução de Paulo Henriques Britto:
Em 2011, sai pela Penguin-Companhia uma versão revista dessa mesma tradução, em formato de bolso:
XIX. Mais novidades
Ainda em 1994, a Ediouro, em sua coleção Clássicos de Bolso, lança Os europeus, em tradução de Laura Alves:
XX. Suspiro...
Em 1995, sai pela Nova Fronteira uma nova tradução de Washington Square, também com o título de A herdeira, feita por Newton Goldman:
Essa tradução de Newton Goldman é licenciada em 1996 para o Círculo do Livro (reed. 97, 99):
XXI. Começam a se repetir os contos
Ainda em 1995, a Nova Alexandria publica A vida privada e outras histórias, em seleção e tradução de Onédia Célia Pereira de Queiroz (reed. 2001). Contém "A vida privada", "A lição do mestre" e "O desenho no tapete" (uma pena: já dispúnhamos destes dois contos desde 1993).
XXII. Alvíssaras
Continuando em 1995, sai A arte da ficção, excertos de The Art of Novel selecionados por Antonio Paulo Graça e traduzidos por Daniel Piza, pela Imaginário, na Série Olhar Crítico (reed. 1996):
Em 2011, é reeditada pela Novo Século:
XXIII. Mais alvíssaras
Em 1996, sai pela Sette Letras o estudo Gustave Flaubert, em tradução de Léa Viveiros de Castro, abaixo em capa na reedição de 2000, quando a editora já passara a se chamar 7Letras:
XXIV. Outra repetição
Em 1996, reed. 1997, sai mais uma A lição do mestre, agora pela Paz e Terra, Seção Leitura, em tradução de Afonso Teixeira Filho e Rui Costa Pimenta:
XXV. Boas novas
Em 1997, a Imago publica A Madona do futuro, um dos contos favoritos do próprio autor, em tradução de Arthur Nestrovski:
XXVI. Mais boas novas
Em 1998, sai aquele portento que é As asas da pomba, em tradução de Marcos Santarrita, pela Ediouro:
XXVII. Variando um pouco
Em 2000, sai uma edição bilíngue de The Pupil, O pupilo, em tradução de André Cardoso, na Coleção Biblioteca Alumni, da Imago/ Alumni:
XXVIII. Ufa!
Em 2002, finalmente sai The Golden Bowl, A taça de ouro, pela Record, em tradução de Alves Calado:
Em 2009, é reeditada pela BestBolso:
XXIX. Continuam as alvíssaras
Em 2003, sai pela Globo A arte do romance: antologia de prefácios, em seleção, apresentação e tradução de Marcelo Pen, com oito textos.
XXX. Mais uma retradução
Em 2004, sai o conto "A decisão correta" na coletânea
Clássicos do sobrenatural, em seleção e tradução de Enid Abreu Dobránszky, pela Iluminuras:
XXXI. Ainda
The Turn
Em 2005, a Companhia das Letras lança
Contos de horror do século XIX, onde comparece
A volta do parafuso em tradução de Marcelo Pen - que, aliás, lucidamente comenta em seu prefácio que a tradução do título, embora a tenha mantido como tal, é "um grande equívoco" e, "a rigor, não quer dizer nada em português":
XXXII. Mais um
Ainda em 2005, a Landmark publica em edição bilíngue A volta do parafuso, em tradução de Chico Lopes:
XXXIII. Novidades
Também em 2005, a Planeta lança Um peregrino apaixonado e outras histórias (as outras são "Eugene Pickering" e "O último dos Valérios"), em tradução de Marcelo Pen:
XXXIV. Mais uma adaptação
Em 2005, a Rideel publica A volta do parafuso na adaptação de Ana Carolina Vieira Rodriguez (reed. 2010):
XXXV.
Em 2006, sai pela Cosac Naify A fera na selva, em tradução de José Geraldo Couto:
XXXVI. Mais do mesmo
Ainda em 2006, outra A volta do parafuso, pela editora Martin Claret, em tradução de Luciano Alves Meira (reed. 2007, 2010):
XXXVII. Mais um
Em 2007, a L&PM publica A volta do parafuso (seguido de Daisy Miller), em tradução de Guilherme Braga e Henrique Guerra (reed. 2008, 2010):
XXXVIII. Novidades
Em 2008, Os espólios de Poynton saem pela Companhia das Letras em tradução de Onédia Célia Pereira de Queiroz:
XXXIX.
Finalmente sai em 2010 o aguardado Os embaixadores, pela Cosac Naify, em tradução de Marcelo Pen:
XL. Mais uma volta
Em 2010, a Hedra lança A volta do parafuso em tradução de Marcos Maffei:
XLI. Tantas voltas...
Em 2011, pela Penguin-Companhia, sai A outra volta do parafuso, em tradução de Paulo Henriques Britto:
XLII. Quase espanando
Em 2011, a Atual, em sua Coleção Três por Três, lança um volume de adaptações infanto-juvenis com o título Três fantasmas, contendo "O capote", "A volta do parafuso" e "Alavasto ou Morrer não é bonito":
XLIII.
Em 2012, temos
Vida de artista, quatro contos sobre pintores (The history of a masterpiece/ The Madonna of the Future/ The Liar/ The Beldonald Holnein - não sei como ficaram os títulos em portugês), em tradução de Cláudio Figueiredo, pela José Olympio:
* Localizei uma referência a 1950, mas não pude comprová-la.
** Digo isso porque o Clube do Livro era notório por suas "traduções especiais", isto é, traduções portuguesas apenas adaptadas ao português brasileiro, ou antigas e apenas com a grafia atualizada, porém atribuídas a colaboradores da editora, sendo o mais constante deles José Maria Machado.
É visível que na década de 1990 há entre nós um salutaríssimo
boom jamesiano, embora não suficiente, nem de longe, para preencher as grandes e várias lacunas. Onde está, por exemplo,
A princesa Casamassima? E
Roderick Hudson? E
Os bostonianos? Além disso, certamente há mais coisas publicadas entre nós, mas que ainda não localizei: por exemplo, tenho uma vaga lembrança de ter lido
The Golden Bowl em português no começo dos anos 80 - que edição seria? E
O altar dos mortos, só saiu em Portugal?
Atualização: Legal! Jonas Lopes me informa que "O altar dos mortos" está em
Contos de amor do século XIX, em tradução de José Rubens Siqueira, pela Companhia das Letras, 2007:
Encontro ainda "O romance de uns velhos vestidos", em
Obras-primas do conto de terror, seleção de Jacob Penteado, sem indicação de tradutor (possivelmente de Portugal), Livraria Martins, 1958. Aqui em capa de 1962:
E também "Um peregrino apaixonado" na coletânea organizada por Sérgio Milliet,
Obras-primas do conto norte-americano, também pela Martins, 1958 (não sei quem é o tradutor):
Em 1967, na coletânea
7 novelas clássicas, com tradução de Márcio Cotrim e outros, sai pela Imago/ Lidador o conto "Um episódio internacional":
Há também "Brooksmith" no volume "Caminhos Cruzados" do
Mar de histórias, em seleção e tradução de Aurélio Buarque de Holanda e Paulo Rónai. Aqui na capa da edição de 1982:
Toque de Ricardo Duarte: em 2003, sai "O banco da desolação" em
A selva do dinheiro, coletânea com seleção e tradução de Roberto Muggiati, pela Record:
Ainda Ricardo Duarte avisa: em 2003, sai pela Record
A selva do amor, coletânea organizada por Roberto Muggiati, com "Diário de um homem de cinquenta". Não sei ainda o tradutor (Zoia Prestes, Pedro Süssekind ou o próprio Muggiati):
Em 2004, um surpreendente
Viver com sabedoria: mensagens para a busca da felicidade eterna, pela Reader's Digest do Brasil, com mensagens de Kafka, Jane Austen e outros, entre eles Henry James:
Outro toque de Ricardo Duarte: a editora Autêntica de Belo Horizonte está com previsão de lançamento de
Viagens à Itália ainda neste primeiro semestre. Ver
aqui.
Uma hora, vou ter de reordenar este post: mais um Henry James, seu segundo texto publicado no Brasil, o ensaio sobre "Balzac", em 1954, como introdução ao volume XVII da
Comédia Humana de Balzac, pela Globo, em tradução de Berenice Xavier.
Atualização em 14/12/12: um achado sensacional de Raquel Sallaberry Brião, do
Jane Austen em Português: a tradução de Margarida Patriota,
Pobre herdeira da Washington Square, pela Alhambra, 1991.
Sobre a pequena e efêmera Alhambra, ver a menção de Ivo Barroso,
aqui.
atualização em 16/8/2015:"Sir Edmund Orme", em
Góticos II: lúgubres mistérios, pela Melhoramentos, em tradução de Domingos Demasi, 2014.