Quando eu chego a um sebo e, por acaso, bato o olho em 4 edições diferentes de uma mesma obra, fico imediatamente curiosa: serão 4 diferentes traduções, ou a mesma tradução editada por 4 diferentes editoras, enfim, o que há de particular nesses 4 livros?
Foi o que aconteceu na semana passada quando me vi diante do Satíricon, de Petrônio, em edições da Civilização Brasileira (1970), Abril Cultural (1981), Martin Claret (2001) e Escala (s.d.). Quando comentei isso com a Denise, ela me lembrou que justamente a tradução de Cláudio Aquati do Satíricon, pela Cosac Naify (2008), acabara de ganhar o segundo lugar do prêmio Jabuti 2009, na categoria “Tradução”. Não tive dúvida e comprei tudo (menos o da Abril Cultural, que tinha os mesmos créditos de tradução da Civ. Bras.): nunca havia lido Petrônio e seria uma ótima oportunidade para comparar os diferentes trabalhos.
Antes de começar a leitura, no entanto, dei uma olhada mais cuidada nas edições:
Cosac Naify (2008)
Tradução: Cláudio Aquati (professor da UNESP, especialista em literatura latina. Tradução realizada com financiamento da FAPESP)
Fonte: Texto latino estabelecido por Alfred Ernout em 1923 (Paris: Société d’Édition Les Belles Lettres, 1950, 3ª ed.). Segundo o tradutor, uma versão confiável do original latino está disponível no site The Latin Library.
Estrutura do texto: na p. 241, o tradutor fala sobre a estrutura da tradução: “As lacunas estão indicadas por asteriscos. [...] A divisão em vinte partes também se deve ao tradutor, bem como sua denominação. Cada parte está dividida em capítulos (141 no total), indicados por algarismos arábicos entre colchetes”.
Apresentação: Raymond Queneau (traduzido por Paulo Werneck)
Posfácio: Cláudio Aquati (sobre a obra, sobre o autor, sobre a tradução, imagens e sugestões de leitura)
Escala (s.d.)
Tradução: Miguel Ruas (tradutor também de Platão, pela editora Atena. Direitos cedidos pela Ediouro.)
Fonte: Não indicada.
Estrutura do texto: 15 capítulos com títulos
Introdução: G. D. Leoni
Outras edições desta tradução: Atena (1949), Ediouro (1965), Tecnoprint (1980)
Civilização Brasileira (1970)
Tradução: Marcos Santarrita (autor de 12 romances e tradutor de Pirandello, H. G. Wells, Henry James, Alexandre Dumas, Eric Hobsbawm, Philip Roth, Dashiell Hammett, Charles Bukowski, entre outros)
Fonte: Do original francês Le Satyricon (não há informação sobre qual tradução francesa)
Estrutura do texto: 141 capítulos em algarismos romanos.
Apresentação: Carlos Nelson Coutinho
Orelha: Mário da Silva Brito
Outras edições desta tradução: Editora Três (1974), Abril Cultural (1980)
Martin Claret (2001)
Tradução: Alex Marins (plagiador de Monteiro Lobato, Moacyr Werneck de Castro, Adolfo Casais Monteiro, Godofredo Rangel, entre outros)
Fonte: Não indicada.
Estrutura do texto: 141 capítulos em algarismos romanos.
Introdução: Mário da Silva Brito (interessante, o mesmo texto da orelha da edição da Civilização Brasileira)
Adicionais: perfil biográfico, complemento de leitura (Cristina Spechoto)
O que eu mais gosto na edição da Martin Claret é a menção “Texto Integral” desde a capa. É como uma marca registrada da editora, que a imprime (no piloto automático) na grande maioria de seus livros: uma jogada de marketing para dizer que seria um trabalho completo, sério. O curioso é que nunca se faz menção à fonte desse texto “integral”: vem direto do latim; por interposição de uma tradução francesa; qual, dentre tantas? No caso específico do Satíricon, o que caracteriza o texto é que chegou aos tempos modernos em FRAGMENTOS!!! Desde a Antiguidade, ninguém nunca viu um texto “integral” da obra de Petrônio. No entanto, a Martin Claret parece ter conseguido manuscritos inéditos, pois além da menção na capa, comenta em seu complemento à leitura: “Acreditando no poder da leitura, a Editora Martin Claret traz, do século I, mais uma obra prima para você”.
Identifiquei ainda as seguintes traduções do Satíricon para o português do Brasil e de Portugal:
- Jorge de Sampaio, Europa-América (Lisboa), 1973.
- Paulo Leminski, Brasiliense, 1985. Tradução, introdução, notas e posfácio.
- Sandra Braga Bianchet, Crisálida, 2004. Tradução, introdução, notas e posfácio.
- Delfim F. Leão, Cotovia (Lisboa), 2005.
Vou agora ler as traduções aqui de casa e volto com um cotejo.
Joana Canêdo
obs: Obrigada, Denise, pelo espaço em seu blog.
Imagens: Cosac Naify, Submarino, CotaCota, Gojaba
gostaria de saber o endereço eletronico de Cristina spechoto para falar sobre o livro de Emille Cué
ResponderExcluirMessias (messias_netzach@ig.com.br
prezado messias: foi joana canêdo, antiga colaboradora deste blog, que escreveu o post citando a professora cristina spechoto. não tenho o contato dela, mas talvez você encontre meio de localizá-la procurando diretamente no google ou no facebook.
ResponderExcluirque legal! obrigada por informar.
ResponderExcluirBoa noite! Alguém interessado em compartilhar/vender seu livro? de preferência o Cosac naify. Obrigado.
ResponderExcluirBoa noite, Denise, a Joana Canêdo chegou a retornar ao blog com o resultado de sua comparação das referidas traduções?
ResponderExcluirsim, sim - estão na sequência. pode procurar no marcador "joana canêdo": https://naogostodeplagio.blogspot.com.br/search/label/joana%20can%C3%AAdo
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