é difícil bater de frente contra afirmações não
verificadas que, com o tempo, acabam se tornando referências consagradas. só
que, de vez em quando, é algo que se torna inevitável.
então aqui vou eu contra brito broca.
pode um de nossos grandes críticos literários ter
afirmado o que bem quis (ou o que lhe sugeriu a memória talvez empanada pelo decurso
das décadas) em seu famoso prefácio à edição de crime e castigo pela
josé olympio, lançada em 1949 em tradução de rosário fusco:
A primeira tradução portuguesa do Crime e Castigo apareceu no Brasil por volta de 1920, assinada por Fernão Neves, em estilo meio precioso editada pela Livraria Castilho. Tudo nos leva a supor que o tradutor se tivesse valido de uma das versões francesas, que, segundo o conselho do próprio Vogüé, procuravam adaptar Dostoievski ao gosto do público gaulês. Em todo caso esse já foi um esforço louvável para vulgarizar o grande romancista entre nós.
sim, de fato fernão neves – pseudônimo que,
curiosamente, brito broca não elucida para o leitor ser de fernando nery –
havia feito “um esforço louvável para vulgarizar o grande romancista entre
nós”. e sim, realmente ele se valeu de "uma das versões francesas". e
sim, a obra foi mesmo "editada pela livraria castilho". e sim, isso
se deu “por volta de 1920”. e sim, com efeito, fernão neves se entregava a um
"estilo meio precioso”, até virulentamente criticado por seus resenhistas
na época.
só que tudo isso se passou não com crime e castigo,
mas com recordações da casa dos mortos, em sua primeira tradução brasileira,
publicada em 1917.
resumindo: a afirmação de brito broca não procede. jamais surgiu em momento algum, antes ou depois de c.1920, qualquer tradução de fernão neves para crime e castigo, nem pela castilho nem
por qualquer editora.
Denise, a tradução do brito broca de Heródoto é diretamente do grego? Além da tradução, esgotada, do Carlos Alberto Nunes, temos alguma tradução confiável de Heródoto?
ResponderExcluirah, duvido, rafael; deve ser do francês ou do espanhol.
Excluirah, aliás, estou vendo agora: consta no ebooks brasil nos créditos da edi~]ao da jackson: Traduzido do grego por Pierre Henri Larcher e Versão para o português de J. Brito Broca
ExcluirMas vocês recomendam a versão do Brito Broca?
ExcluirConfundi-me, citei Carlos Alberto Nunes, mas pensava no Mario da Gama Kury, tradutor das Histórias de Heródoto.
ResponderExcluiré a que eu tenho. além dessas duas, não sei de outras. talvez tenha, mas nunca fui atrás.
ExcluirProfessora, a senhora recomenda a tradução de Heródoto de Mário da Gama Kury?
ResponderExcluirPergunto, pois na época da graduação fui orientada a jamais usá-las, pois supostamente seriam versões do francês, e não traduções diretas do grego. Desde então, sempre passei longe delas. Mas no que diz respeito a Heródoto, fico perdida na hora do que recomendar aos meus estudantes (vou para a edição de Carlos Schrader, da Gredos).
lolita, até onde sei, gama kury traduzia, sim, direto do grego. quem afirma o contrário é que deve apresentar os elementos de prova de que dispõe.
ResponderExcluirTem razão, professora. Nenhuma prova para essa acusação me foi apresentada.
Excluiré, digamos que foi uma leviandade da parte de quem afirmou isso. o que tem é que as traduções dele são bastante características, bastante próximas do original grego, e às vezes isso pode causar um estranhamento no leitor. por exemplo, a transliteração do grego para o português adotada por ele, embora considerada inteiramente correta, encontra algumas objeções entre outros classicistas por causa das tônicas ou da sonoridade: p.ex. Melâmpus, em vez do mais habitual Melampo etc. Aqui vc encontra o dicionário de mitologia grega e romana que gama kury criou: https://www.academia.edu/70962969/Dicion%C3%A1rio_de_Mitologia_Grega_e_Romana_M%C3%A1rio_da_Gama_Kury
Excluire, a meu ver, sim, pode ficar tranquila para recomendar as traduções e os estudos dele